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Pe. Adalmiran, Pe. José, Pe. Antonio José e Pe. Leonardo. Exemplos de vida sacerdotal |
Estou no meu último ano de
seminário. Já se vão dez anos desde que entrei no Seminário Maior Diocesano São
José, da cidade do Crato. A vocação que pretendo abraçar, assim como todas as
outras, é um chamado que Deus nos faz, sem desmerecer a nossa liberdade. Ele
mesmo nos fez para a liberdade.
Uma
vez abraçando a vocação ao sacerdócio, a Igreja, mãe e mestra, nos faz abraçar
também a mesma opção de vida de Jesus: a vida celibatária.
Esta
decisão eclesiástica, depois de vasta experiência pastoral aos longos dos anos,
conforme nos ensina a tradição de nossa Igreja, busca evidenciar as palavras do
próprio Jesus no santo evangelho: “os filhos deste mundo casam-se e dão-se em
casamento, mas os que forem julgados dignos de ter parte no outro mundo e na
ressurreição dos mortos, não tomam nem mulher nem marido” (Lc 20,34).
Em
tais palavras, Jesus não se coloca contra a união do homem e da mulher. Pelo
contrário, ele mesmo elevou o matrimônio à condição de sacramento.
Sinto-me
feliz em me preparar para abraçar esta dádiva de Deus, por ocasião do
sacerdócio. Sou falho, limitado e humano como todos. Careço das orações, do
carinho e da atenção daqueles que querem sentir comigo o amor e a manifestação
da bondade de Deus.
Estou
muito próximo de completar 30 anos de idade. Desde os 10, alimento em meu ser a
vocação que Deus, em seus desígnios, apresenta a mim.
Como
é linda a vocação do padre! Como são maravilhosos os testemunhos de padres que
zelam pelo anúncio verdadeiro do evangelho em suas próprias vidas. Deus os abençoe!
Sem mais
delongas, faço minhas as palavras do Padre Fábio de Melo, as quais apresento agora:
Celibato
Ando pensando no
valor de ser só. Talvez seja por causa da grande polêmica que envolveu a vida
celibatária nos últimos dias. Interessante como as pessoas ficam querendo
arrumar esposas para os padres.
Lutam, mesmo que
não as tenhamos convocado para tal, para que recebamos o direito de nos casar e
constituir família. Já presenciei discursos inflamados
de pessoas que acham um absurdo o fato de padre não poder casar.
Eu também fico
indignado, mas de outro modo. Fico indignado quando a sociedade interpreta a
vida celibatária como mera restrição da vida sexual.
Fico indignado
quando vejo as pessoas se perderem em argumentos rasos, limitando uma questão
tão complexa ao contexto do “pode ou não pode”.
A sexualidade é apenas um detalhe da questão. Castidade é muito mais. Castidade é um elemento que favorece a
solidão frutuosa, pois nos coloca diante da possibilidade de fazer da vida uma
experiência de doação plena. Digo por
mim.
Eu não poderia ser um homem casado e levar a vida que levo. Não poderia
privar os meus filhos de minha presença para fazer as escolhas que faço.
O fato de não me casar não me priva do amor.
Eu o descubro de outros modos. Tenho diante de mim a possibilidade de ser
dos que precisam de minha presença. Na palavra que digo, na música que canto e
no gesto que realizo, o todo de minha condição humana está colocado. É o que
tento viver. É o que acredito ser o certo.
Nunca encarei o
celibato como restrição. Esta opção de vida não me foi imposta. Ninguém me obrigou ser padre, e quando escolhi
o ser, ninguém me enganou.
Eu assumi
livremente todas as possibilidades do meu ministério, mas também todos os
limites. Não há escolhas humanas que só nos trarão possibilidades.
Tudo é tecido a
partir dos avessos e dos direitos. É questão de maturidade. Eu não sou um homem solitário, apenas escolhi ser só. Não
vivo lamentando o fato de não me casar.
Ao contrário, sou muito feliz sendo quem eu sou e fazendo o que faço.
Tenho meus limites, minhas lutas cotidianas para manter a minha fidelidade, mas
não faço desta luta uma experiência de lamento. Já caí inúmeras vezes ao longo
de minha vida.
Não tenho medo
das minhas quedas. Elas me humanizaram e me ajudaram a compreender o
significado da misericórdia. Eu não sou teórico. Vivo na carne a
necessidade de estar em Deus para que minhas esperanças continuem vivas. Eu não
sou por acaso.
Sou fruto de um
processo histórico que me faz perceber as pessoas que posso trazer para dentro
do meu coração.
Deus me mostra.
Ele me indica, por meio de minha sensibilidade, quais são as pessoas que
poderão oferecer algum risco para minha castidade.
Eu não me refiro
somente ao perigo da sexualidade. Eu me refiro também às pessoas que querem me transformar
em “propriedade privada”.
Querem depositar
sobre mim o seu universo de carências e necessidades, iludidas de que eu sou o
redentor de suas vidas.
Contra a
castidade de um padre se peca de diversas formas. É preciso pensar sobre isso.
Não se trata de casar ou não. Casamento não resolve os problemas do mundo.
Nem sempre o
casamento acaba com a solidão. Vejo casais em locais públicos em profundo
estado de solidão. Não trocam palavras, nem olhares. Não descobriram a beleza
dos detalhes que a castidade sugere.
Fizeram sexo
demais, mas amaram de menos. Faltou castidade, encontro frutuoso, amor que não
carece de sexo o tempo todo, porque sobrevive de outras formas de carinho.
É por isso que eu
continuo aqui, lutando pelo direito de ser só, sem que isso pareça neurose ou
imposição que alguém me fez. Da mesma forma que eu continuo lutando para
que os casais descubram que o casamento também não é uma imposição. Só se casa aquele que quer.
Por isso
perguntamos sempre – É de livre e espontânea vontade que o fazeis? – É simples.
Castos ou casados, ninguém está livre das obrigações do amor. A fidelidade é o rosto mais sincero de nossas
predileções.
A graça desça
sobre cada um de vocês, meus filhos! Que
Deus lhes abençoe em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo AMÉM!
Padre Fábio de Melo
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