sábado, 3 de novembro de 2012

Mateus e as bem-aventuranças aos santos de Deus



      Estamos diante de uma excepcional passagem da vida pública de Jesus. Estudiosos apontam o sermão da montanha como a carta magna deste evangelho. Há uma forte relação entre Jesus, o projeto de Deus e aqueles que são excluídos do âmbito social. São estes que recorrem a Jesus, “pessoas comumente tidas como infelizes e amaldiçoadas são felizes, pois estão aptas para receber a bênção do Reino”.
        As incongruências da vida, o descaso e a falta de condições dignas são situações que encontram saída no plano de Deus, pois os injustiçados deste mundo alcançam a felicidade diante de Deus. É esta a principal mensagem deste encontro de Jesus com aquele povo. A pobreza em Jesus é entendida como um novo paradigma. Jesus está do lado dos pobres e não da pobreza. Opõe-se às riquezas, não aos ricos. É esta, portanto, a bem-aventurança a ser vivida e buscada cotidianamente.
        As bem-aventuranças retratam que os que experimentam tal situação devem assumir uma realidade que transcenda a tudo isto. Estas incoerências todas não são a razão de suas vidas. É bem mais feliz quem compreende quais são os desígnios de Deus em sua vida.
        Algo também muito presente no evangelho segundo Mateus, ainda no início deste momento do evangelho, está no fato de Jesus ter subido à montanha para falar com as multidões. “Vendo ele as multidões, subiu à montanha” (cf. Mt 5, 1). Afinal, o que o evangelista quis expressar diante deste comportamento de Jesus? O que os seus interlocutores puderam perceber com esta situação? Jesus precisou se recolher para depois apresentar sua mensagem àquele povo. Diferente de Lucas que menciona Jesus numa planície. “Desceu com eles e parou num lugar plano...” (cf. Lc 6, 17). Ao se referir a Jesus que sobe numa montanha e fala ao povo, faz referência a Moisés que recebeu de Deus o decálogo no Monte Sinai. As bem-aventuranças configuram-se numa nova perspectiva da lei.
        Outra característica presente em Mateus é o que ele deseja expressar ao falar de justiça. “Felizes os que tem fome e sede de justiça...” (cf. Mt 5, 5); “os que são perseguidos por causa da justiça...” (cf. Mt 5, 10). No evangelho, justiça quer dizer cumprir a vontade de Deus. Há outro momento que podemos sentir com mais clareza. Ao relatar o batismo de Jesus, quando João Batista questionava o fato de Jesus ser batizado, Jesus assim diz: “... convém cumprir toda a justiça” (cf. Mt 3, 15).
        Mais um interessante momento das bem-aventuranças em Mateus é que, com exceção da última bem-aventurança que está na segunda pessoa, as demais se encontram na terceira pessoa. Isto para nos fazer entender que são “solenes proclamações universais”, sendo que a última torna-se um apelo mais direto: “Felizes sois quando vos injuriarem e vos perseguirem (...). Alegrai-vos e regozijai-vos porque será grande a vossa recompensa...” (cf. Mt 5, 11-12). É, na verdade, uma referência àqueles que o acompanham mais de perto.
        Apreciamos aqui uma peculiaridade em toda a mensagem do evangelho de Mateus. Para aquele que se apresenta como seguidor de Jesus será necessário ter a certeza de que muitos serão os desafios. Porém, o compromisso com a recompensa que Deus oferece será muito maior. As bem-aventuranças são exemplos desta realidade.
        


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