As incongruências da vida, o descaso e a
falta de condições dignas são situações que encontram saída no plano de Deus,
pois os injustiçados deste mundo alcançam a felicidade diante de Deus. É esta a
principal mensagem deste encontro de Jesus com aquele povo. A pobreza em Jesus
é entendida como um novo paradigma. Jesus está do lado dos pobres e não da
pobreza. Opõe-se às riquezas, não aos ricos. É esta, portanto, a
bem-aventurança a ser vivida e buscada cotidianamente.
As bem-aventuranças retratam que os que
experimentam tal situação devem assumir uma realidade que transcenda a tudo
isto. Estas incoerências todas não são a razão de suas vidas. É bem mais feliz
quem compreende quais são os desígnios de Deus em sua vida.
Algo também muito presente no evangelho
segundo Mateus, ainda no início deste momento do evangelho, está no fato de
Jesus ter subido à montanha para falar com as multidões. “Vendo ele as
multidões, subiu à montanha” (cf. Mt 5, 1). Afinal, o que o evangelista quis
expressar diante deste comportamento de Jesus? O que os seus interlocutores puderam
perceber com esta situação? Jesus precisou se recolher para depois apresentar
sua mensagem àquele povo. Diferente de Lucas que menciona Jesus numa planície.
“Desceu com eles e parou num lugar plano...” (cf. Lc 6, 17). Ao se referir a
Jesus que sobe numa montanha e fala ao povo, faz referência a Moisés que
recebeu de Deus o decálogo no Monte Sinai. As bem-aventuranças configuram-se numa
nova perspectiva da lei.
Outra característica presente em Mateus
é o que ele deseja expressar ao falar de justiça. “Felizes os que tem fome e
sede de justiça...” (cf. Mt 5, 5); “os que são perseguidos por causa da
justiça...” (cf. Mt 5, 10). No evangelho, justiça quer dizer cumprir a vontade
de Deus. Há outro momento que podemos sentir com mais clareza. Ao relatar o
batismo de Jesus, quando João Batista questionava o fato de Jesus ser batizado,
Jesus assim diz: “... convém cumprir toda a justiça” (cf. Mt 3, 15).
Mais um interessante momento das
bem-aventuranças em Mateus é que, com exceção da última bem-aventurança que
está na segunda pessoa, as demais se encontram na terceira pessoa. Isto para
nos fazer entender que são “solenes proclamações universais”, sendo que a
última torna-se um apelo mais direto: “Felizes sois quando vos injuriarem e vos
perseguirem (...). Alegrai-vos e regozijai-vos porque será grande a vossa
recompensa...” (cf. Mt 5, 11-12). É, na verdade, uma referência àqueles que o
acompanham mais de perto.
Apreciamos aqui uma
peculiaridade em toda a mensagem do evangelho de Mateus. Para aquele que se
apresenta como seguidor de Jesus será necessário ter a certeza de que muitos
serão os desafios. Porém, o compromisso com a recompensa que Deus oferece será
muito maior. As bem-aventuranças são exemplos desta realidade.
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