Por uma fé que pense

 Quando sou chamado para participar dos encontros em família com a rica espiritualidade da Renovação ao Sagrado Coração de Jesus, preocupo-me no momento em que se canta o hino que diz: "Jesus amável, Jesus piedoso, PAI amoroso...". Ora, Jesus é o Pai? Não seria Ele o Filho? Certamente Ele não é o Pai, pois o Pai não se encarnou. Há também o hino que erroneamente se canta por ai: "Jesus nosso PAI, Jesus redentor. Nós te adoramos na Eucaristia, Jesus E MARIA...". A Eucaristia é Jesus e não Ele com a sua mãe. Questões como estas, me apresentam a necessidade de pensar um pouco a respeito da fé que temos.

Numa sociedade tão marcada pelo racionalismo, pelos avanços tecnológicos e pelo progresso científico, muitas vezes somos criticados acerca da nossa fé. Rotulam-nos de alienados, fanáticos, retrógrados etc. Afirmam que a razão não pode dialogar com a fé. Seria como a água que não se deixa misturar com o óleo. Mas será mesmo? Não é possível pensar, indagar-se à luz da fé?

   São Pedro, em sua primeira carta afirma: “Necessitamos apresentar as razões da nossa fé” (1Pd 3,15). O querido e saudoso Papa João Paulo II, hoje beato, também já nos dizia: “a fé e a razão são como que as duas asas que permitem ao ser humano encontrar-se verdadeiramente diante de Deus e dos homens”.

       Uma fé que faz pensar é o que nós cristãos do século XXI tanto necessitamos. A oração que nos ajuda a discernir de forma equilibrada é a maneira mais sensata de alcançarmos uma espiritualidade verdadeira.

     Não basta apenas dizer que cremos. Falar em quem depositamos a nossa esperança. Precisamos apresentar os meios necessários para elucidarmos com a nossa vida e testemunho a fé que abraçamos desde o nosso batismo.

       Em meio a esta reflexão, acredito que existe uma palavra um pouco esquecida em nossos dias atuais. A palavra é CATEQUESE. De origem latina (catechese) e grega (katéchesis) esta palavra nos diz muito sobre a instrução necessária que devemos obter, a fim de apreciarmos uma fé autêntica, sólida e eloquente. Acredito que nos falta catequese em muitos momentos de nossa vida de fé. Por isso, por exemplo, cantamos e dizemos que Jesus é Pai!

       O filósofo Aristóteles já dizia que a grande virtude humana encontra-se no equilíbrio. Se soubermos equilibrar a nossa fé com a maneira de pensarmos, dispondo o nosso pensar e agir àquilo que Deus reserva a nós por meio da fé, certamente teremos uma inspiração deveras sensata, para podermos viver juntos os desígnios de Deus, diante de uma verdadeira espiritualidade.

       A este respeito, quantos de nós lê constantemente a Bíblia? E os documentos de nossa Igreja? O Catecismo da Igreja Católica está completando 20 anos de sua nova edição. Conhecemos a fundo o nosso Catecismo? A nossa prática religiosa é vivida de forma madura ou presa a alguns elementos meramente devocionais? Perguntas que nos levam a pensar um pouco mais sobre a fé que temos. E vale mesmo muito a pena pensar sobre tudo isto.

       Que este Ano da Fé sirva para nos proteger dos riscos de uma fé alienada e alienante, pois o cristão católico que não consegue se inteirar um pouco mais acerca da doutrina da Igreja, não conseguiu ainda obter para si o real sentido do seu batismo. Optemos por uma fé que realmente nos leve a pensar sobre Deus e sobre as nossas relações com os nossos irmãos de fé.