A oração que agrada a Deus

Estamos no século XXI. Um tempo altamente marcado por inúmeros avanços e com eles, o imediatismo assustador a envolver as nossas vidas.

Com uma vida tão acelerada, tantas informações à nossa volta, somos “obrigados” a apresentar respostas rápidas à vida que também é absurdamente rápida.

Se compararmos o contexto atual do mundo que nos envolve com o mundo de alguns poucos anos atrás, facilmente constataremos este aceleramento que nos circunda em todas as circunstâncias. Indícios de uma modernidade a nos exigir cada vez mais.

Precisamos aprender a viver com todas estas novidades no seio familiar, como também nos aspectos profissional e social. Todavia, a fim de que a nossa vida não desemboque num profundo e aterrorizador ativismo, fruto da vida moderna, faz-se necessário lutarmos por uma vida espiritual consistente, que nos auxilie em meio a todas as respostas que o mundo fortemente exige. Caso contrário, paulatinamente viveremos um desequilíbrio que promoverá uma vida fria e sem sentidos. Cairemos, por conseguinte, num imenso colapso. Por isso tristemente se diz que a depressão é a doença do século.

Como cristãos, católicos convictos de nossa fé, nesta primeira semana do tempo quaresmal, no intuito de reverter tais situações em nosso cotidiano, falemos um pouco sobre o sentido da oração, como fiel proposta para conseguirmos o equilíbrio tão almejado para nossas vidas.

A oração é um elemento importante à nossa fé. Sem ela, não conseguiremos atingir um resultado satisfatório para tudo aquilo que tanto desejamos conquistar, como pessoa humana, como cristão. O diálogo com Deus, razão de nossas vidas, torna-se cada vez mais essencial ao nosso coração humano.

No entanto, corre-se o risco de, até mesmo em nossas orações, atribuirmos o desejo de sermos atendidos prontamente como se a oração fosse algo mágico. Como se um simples estalar os dedos fosse o suficiente.

Diante desta lógica, existem aqueles que recorrem à oração como uma espécie de “drive thru” da fé. Esta expressão, que quer dizer “serviço através do carro”, acompanha o ritmo acelerado da modernidade. Os serviços de vendas de produtos, normalmente alimentos, que permitem comprar algo sem sair do próprio automóvel. Comodidade, agilidade e conforto para os nossos dias, mas que certamente não atendem ao sentido primoroso de nossa fé.

       No evangelho, Jesus diz: “todo aquele que pede, recebe. Quem busca, acha. A quem bate, abrir-se-á” (Mt 7,8). Será que tais palavras poderiam adequar-se ao contexto que o mundo teima em nos oferecer? Claro que não! Aqui Jesus não quer propagar o imediatismo. Ele nos faz compreender o sentido da perseverança em nossa oração. Perseverar é uma palavra que muitas vezes não a encontramos mais em nosso vocabulário. O corre-corre, a pressa e a falta de tempo não nos permitem vislumbrar uma saída para um momento de contemplação e graça que a oração perene nos permite alcançar.

       A quaresma é o momento para aprendermos a intensificar a nossa vida de oração. Quando mencionamos a certeza de uma oração intensa, entendamos uma oração que priorize a qualidade e não a quantidade. Não são as grandes quantidades de terços, novenas e missas que nos garantirão “um cantinho” no céu. Foi Jesus também quem falou: “este povo me louva com os lábios, mas os seus corações estão longe de mim” (Mc 7,6).

       A nossa oração deverá ser intensa no aspecto da nossa vivência voltada ao nosso interior. Rezar é dialogar com Deus, ter a certeza de que Ele nos ouve e gosta de nossa oração. Falamos enquanto Deus nos responde através do seu silêncio a nos envolver e preencher a nossa vida muitas vezes atribulada por tantas situações da vida.

       Se conseguirmos apresentar a nós mesmos a necessidade de uma vida de oração consistente e eficaz, certamente estaremos dando um passo bastante importante em nossa caminhada quaresmal, rumo à Páscoa e, sobretudo, alcançaremos a certeza de uma vida voltada àqueles que fazem parte do nosso convívio.

Chega de fórmulas quase que mágicas, textos decorados, correntes que muitas vezes querem “forçar” uma relação com Deus. A oração humilde, vinda do nosso coração, é que certamente alcança o coração de Deus, pois “Deus se deixa conquistar pelo humilde e recusa a arrogância do orgulhoso” (João Paulo II).

       Que a graça de Deus nunca nos falte! Que a nossa vida de oração nos permita abraçar uma vida serena, capaz de nos ajudar diante dos percalços e descaminhos que enfrentamos em nosso viver. Amém!