Reconciliai-vos com Deus. É agora o momento favorável.

Novamente deparamo-nos com um tempo favorável à reflexão acerca de nossas vidas. Estamos iniciando o tempo quaresmal. A palavra Quaresma vem do latim ”quadragésima”. Seria como se disséssemos que estamos agora num período de quarentena. É tempo de observação. Na verdade, uma auto-observação. À luz da palavra de Deus, mediante os ensinamentos da Igreja, paulatinamente vamos recorrendo à graça de Deus que nos convida a mudar de vida.

O número 40 na Bíblia é altamente simbólico: nos lembra o povo hebreu pelo deserto a caminho da terra prometida. Moisés também passou 40 dias no monte Sinai. O profeta Elias caminhou 40 dias até chegar à montanha do Senhor. O mais célebre dentre estes exemplos é o tempo de Jesus no deserto: 40 dias jejuando, preparando-se para a sua importante missão.

A fim de que possamos desfrutar de uma real e consistente mudança em nossas vidas, faz-se necessária atitudes de penitência interior. A Igreja nos apresenta três importantes modalidades para este proveitoso exercício quaresmal. São eles: o jejum, a oração e a esmola. Atitudes que nos disciplinam e nos auxiliam numa importante relação conosco, com Deus e com os irmãos. Como nos ensina São Pedro Crisólogo: "a oração chama, o jejum intercede e a misericórdia recebe". 

A prática ascética de atitudes que nos asseguram uma espiritualidade condizente com este tempo de quaresma nos faz repetir o mesmo propósito de vida do penitente que Jesus faz referência no evangelho: “Meu Deus, tem piedade mim que sou pecador” (Lc 18,13).

Estes dias de quaresma nos favorecem também a uma valiosa prática do jejum como oportunidade para encontrarmos o sentido autêntico da renúncia em nossas vidas. Abdicar de situações e comportamentos de vida, para alcançar o verdadeiro valor que nos qualifica perante Deus e os irmãos.

Outros importantes valores a serem assumidos no transcorrer destes dias quaresmais são: a intensificação da prática da caridade e também a reconciliação com Deus, por meio do sacramento da confissão.

Para que este desejo de mudar de vida se cumpra diante de valiosas propostas para a purificação de nosso interior, a palavra de Deus nos auxilia e nos compromete de maneira bastante intensa. É o que podemos sentir com os textos bíblicos para esta quarta-feira de cinzas de 2013.

Fomentando em nós uma séria reflexão sobre o arrependimento que as nossas faltas nos devem levar a encontrar, o profeta Joel, na primeira leitura, alerta-nos: “rasgai o vosso coração e não as vossas vestes” (Jl 2,12-18). O salmista nos convoca a elevar a Deus uma prece: “criai em mim um coração que seja puro, dai-me de novo um espírito decidido” (Sl 50,12). São Paulo, voltando-se à comunidade de Corínto, diz: “reconciliai-vos com Deus. É agora o momento favorável” (2Cor  5,20-6,2).

Tal desejo de conversão deve estar contido em nosso íntimo sempre. A nossa consciência nos leva a observância constante, a fim de alcançarmos o resultado tão almejado, como nos diz Jesus no evangelho: “o teu Pai, que vê o que está escondido, te dará a recompensa” (Mt 6,1-6.16-18).

Outro importante quesito neste itinerário quaresmal é a proposta de reflexão junto à Campanha da Fraternidade que este ano se volta aos jovens. “Fraternidade e Juventude” é o tema da Campanha para a quaresma em 2013. O lema é inspirado no profeta Isaías 6,8: “Eis-me aqui! Envia-me”.

Diante do impacto da mudança de época, com a substituição do papel exercido pelos pais e pela escola pelos meios de comunicação de massa, o surgimento e influência da cultura midiática, a desigualdade entre os jovens, entre outros fatores, cabe a nós, Igreja, refletirmos a este respeito, primando pela qualidade do futuro de nossos jovens e as suas relações significativas com Deus. A realização da referida campanha acontecerá de 13 de fevereiro a 24 de março de 2013. 

No intuito de aproveitarmos cada momento desta “quarentena” espiritual, este itinerário de fé e oração, devemos manter viva em nós as sábias palavras do nosso querido Papa Bento XVI, quando em sua primeira encíclica apostólica (Deus Caritas Est), assim expressou-se: “ser cristãos não é recorrer meramente a uma decisão ética ou a uma grande ideia de vida. Não é alcançar uma prática de uma moral elevada. Ser cristão é viver a experiência de um encontro verdadeiro com uma pessoa: Jesus Cristo, nosso Senhor. Uma pessoa que dá à vida um novo horizonte e uma orientação mais que decisiva ao nosso viver". 

Acerca do nosso Papa, dediquemos nossa oração a ele e à nossa Igreja. Novos desafios se descortinam para o futuro de nossa Igreja. Rezemos!

Uma proveitosa Quaresma a todos! Este é o meu desejo!