Não gosto de ser saudosista. Não vivo de memórias, mas acredito que o passado tem sim as suas lições. Hojé é um dia triste para mim. Sou o neto mais velho de um grande ser humano chamado Pedro Francisco de Souza, falecido há quase cinco anos. Neste instante, sinto a necessidade em meu íntimo de poder externar aqui, algumas recordações que trago comigo acerca do comerciante que ele foi. Meu querido avô era dono de uma mercearia que funcionava na rua Santa Luzia, esquina com a Rua São Miguel. Naquela localidade todos conheciam muito bem aquele homem de inúmeras virtudes. A sua humildade é algo que mais me fascina até os dias de hoje. Era um homem verdadeiramente justo! De poucas letras, mas de uma sabedoria encantadora. Casado com Maria Vilani Andrade de Souza, também falecida, tiveram sete filhos. Na sua bodega (como era mais conhecida a sua mercearia) tinha de tudo um pouco: utensílios para o lar, bebidas, produtos de higiene pessoal entre outros. Contudo, o que sempre trago em minhas lembranças é a variada quantidade de gaiolas com os mais diversos tipos de pássaros a cantarolar naquele recinto comercial. Todos os dias, sempre por volta das 4h da manhã, lá ia o meu avô já para a sua bodega, a fim de encontrar o tempo necessário para cuidar de todas aquelas gaiolas e pássaros. Posso ouvir ainda hoje o belo canto da sabiá. Por fazer isto com tanto esmero e dedicação, meu querido avô é conhecido ainda hoje como "Pedro dos passarinhos". Os seus amigos o chamavam ainda de "Pedro da bodega". Neste mesmo horário, o Pedro da bodega também recebia o leite e o pão, pois toda a vizinhança ia logo cedinho. A bodega de meu avô também era o lugar de encontro para muitos da vizinhança. Muitos amigos gostavam de "prosear", contar "causos" naquele recinto. A bodega era sempre muito frequentada. Quando pequeno, adorava ficar do outro lado do balcão, para ajudar no atendimento aos frequeses. Sempre que alí chegava, com os meus irmãos e primos, meu avô fazia questão de nos brindar com uma bela e gelada Cajuína São Geraldo. E vozinha. Ah! Vozinha! Ela todas as tardes, preparava um lanche para os netos. Na ocasião, nos pedia para passar um tempinho na bodega para que o vovô pudesse também aproveitar de seus quitutes. O tempo não pára mesmo! Meus avós já se encontram na eternidade, ao lado de Deus. Nós aqui, contamos apenas com as recordações e algumas lembrancinhas que os mesmos nos deixaram. A bodega? A bodega é uma destas lembranças. Esta deixou de existir quando meu querido avô faleceu. Dela nos restam apenas fotos e a honra de saber que foi daquele espaço sagrado que um grande homem soube multiplicar dons tão caros e raros para os dias de hoje. Nestes tempos que a cidade de Juazeiro, por ocasião do seu centenário, tanto fala em oração e trabalho, não tenho dúvidas que Pedro Francisco de Souza em toda a sua vida soube fazer do trabalho uma verdadeira oração. Termino estas palavras com o desejo de que a bodega do meu avô querido não se perca nas lembranças dos seus filhos e netos. Pois o que o seu Pedro dos passarinhos fez em vida naquele local sagrado, deve continuar ecoando em todos nós!
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