Nm 21,4-9
Sl 101
Jo 8,21-30
Começamos
a ouvir de Jesus um discurso de despedida. Mas uma despedida diferente. Quer
mesmo é preparar a todos para algo ainda maior. Hoje é fácil para nós
compreendermos bem. Temos a tradição de nossa Igreja, o alicerce de nossa fé e
ainda as experiências que ao longo do tempo fomos adquirindo. Contudo, para os
discípulos não era nada fácil ouvir tais palavras. “Para onde eu vou, vós não podeis ir” (...), vós sois daqui debaixo, eu
sou do alto. Vós sois deste mundo, eu não sou deste mundo”. (Jo 21,21.23).
Imaginemos como seria estar ali a ouvir de Jesus esta mensagem. Todos os seus
discípulos e admiradores queriam mesmo era estar sempre ao seu lado. Sem jamais
perceber que nada poderia mudar e tirar deles uma inconstante paz interior. Hoje
entendemos bem que realmente era preciso Ele ir. Jesus continua o seu discurso
com palavras ainda mais intrigantes. “Quando
tiverdes elevado o Filho do Homem, então sabereis que eu sou, e que nada faço
por mim mesmo, mas apenas falo aquilo que o Pai me ensinou. Aquele que me
enviou está comigo. Ele não me deixou sozinho, porque sempre faço o que é de
seu agrado” (Jo 21,28-29). Nesta citação, encontramos uma relação muito
profunda com Moisés (Antigo Testamento). Observemos: Moisés perguntou a Deus
qual era o seu nome para que pudesse dizer ao Faraó. Deus afirmou simplesmente
que: “Eu sou o que sou” (Ex 3,14).
Este é o nome de Deus. Há uma forte unidade entre Jesus e o Pai (Jo 10,30). Ao
falar sobre ser exaltado, encontramos uma nova alusão a Moisés. Este, sentindo
tanta inquietação do povo a caminhar pelo deserto, pede a Deus para que agisse
com misericórdia. E Deus pede que seja feita uma serpente de bronze e que esta
seja colocada em algum lugar alto, de destaque (Nm 21,8). Neste episódio,
encontramos suporte necessário para nos defendermos diante dos nossos irmãos
que nos criticam acerca do uso de imagens. Mas não entrarei no mérito desta
questão. Caros amigos! O povo estava mesmo impaciente ao ponto de viver
murmurando, sentindo falta da vida escrava no Egito. “Por que nos fizestes sair do Egito para morrermos no deserto? Não há
pão, falta água, e já estamos com nojo desse alimento miserável” (Nm 21,5).
Quantas vezes nos desesperamos, deixando atitudes impensáveis tomarem conta do
nosso ser? Mas a paciência de Deus é infinita. Jesus foi elevado, pois no coração de Deus só habita o amor. Foram
palavras duras para os discípulos, pois só lhes era possível compreender tal
realidade quando Jesus mesmo estivesse no alto da cruz. Só seremos capazes de
também nos elevarmos, se antes observarmos as coisas ao nosso redor. Mas terá que ser do alto da nossa cruz.
Os hebreus observaram de baixo, ou seja, do cotidiano de suas vidas. Por isso
reclamavam do maná que vinha do alto e sentiam saudades das belas panelas de
alimentos no mundo escravo. É Deus quem nos liberta e nos cumula de graças.
Peçamos a Ele que nos oriente nesta Quaresma, a fim de que jamais repudiemos as
coisas que estão à nossa volta, pois Aquele que É nos recompensará. E Ele, assim como foi exaltado, também exalta
quem se deixa humilhar. Esta é a dinâmica do ser cristão. Eis o salmista a nos
encorajar: “Para as futuras gerações se
escreva isto, e um povo novo a ser criado louve a Deus” (Sl 101). Abraços a
todos!
Nenhum comentário:
Postar um comentário