sexta-feira, 3 de junho de 2011

E foi embora cheio de tristeza, porque era muito rico”. (Mc 10,22). Parte 2


Ao termos contato com esta história do evangelho, sempre somos tentados a criticar este homem, pois ele não soube encontrar a coragem necessária para assumir a sua vocação. Renunciar nunca foi algo fácil. E hoje, mais do que nunca. São tantas as coisas que nos apegamos. Tantas são as realidades que nos tornam passivos, sem as condições necessárias para avaliarmos como anda a nossa vida. É assim que nos encontramos: em meio a tantas coisas ao nosso redor, muitas vezes nos sufocando e nos dificultando a encontrar aquilo que realmente qualifica a nossa vida.
O homem, personagem do evangelho, pode ser identificado com cada um de nós. Sabemos quem é o nosso Deus, o nosso mestre. Manifestamos tal reconhecimento, por exemplo, quando nos encontramos todos os domingos na igreja para a santa missa, quando buscamos os sacramentos, quando assumimos algum tipo de atividade pastoral, algum tipo de caridade ou ainda quando cotidianamente nos lembramos de Deus, por meio de nossas orações e devoções pessoais.
Mas chega certo momento em nossas vidas que sentimos algo não mais corresponder aos nossos anseios, mesmo diante de nossa fé. Queremos ir ao encontro daquilo que realmente nos torna mais filhos e filhas de Deus. Foi assim com aquele homem.
Mesmo assumindo para si cada mandamento, cada comportamento alicerçado em sua fé, havia certo vazio. E, ao olhar para Jesus, algo o desinstalou, ao ponto de procurá-lo, a fim de resolver o que realmente lhe angustiava. Faltava-lhe algo que pudesse penetrar o seu íntimo e verdadeiramente fazer a diferença. É o que ouvimos também na santa palavra: “A Palavra de Deus é viva, eficaz (...). Penetra até dividir alma e espírito (...). Ela julga os pensamentos e as intenções do coração” (Hb 4,12).
Quando ouvimos a palavra de Deus, quando nos deixamos seduzir por ela, sentimos o desejo incessante de atender a sua vontade. Contudo, tal vontade sempre será associada a certas renúncias em nossa vida. Somos postos à prova diante dos desígnios de Deus.
Isto ocorre, por exemplo, quando nossos pais são provados a cada dia, assumindo as alegrias, mas também as dores da missão de educar. Da mesma forma no nosso trabalho e afazeres do dia-a-dia: temos a felicidade de contar com os nossos serviços prestados cotidianamente, mas há situações que geram incômodos e decepções.
Diante desta certeza, Deus nos provoca a mudarmos de vida. Jesus pedagogicamente provocou aquele homem a assumir com todo o seu ser aquilo que realmente lhe possibilitaria alcançar a vida que jamais acaba. Aquele homem, por meio de sua liberdade, não foi capaz de tal renúncia. Era muito rico. Muito apegado. Seria deveras difícil para ele.
Peçamos a Deus a graça de enxergamos tudo à nossa volta com os olhos de Deus. Temos paz, somos bons, precisamos abraçar a pobreza que nos rodeia, a fim de darmos os passos tão desejados pelo nosso Deus. Desta forma, seremos capazes de prosseguir com a nossa caminhada de amor e de fé.
          Por fim, caros amigos, façamos das palavras do salmista, a prece desejosa do nosso coração: “Saciai-nos, ó Senhor, com vosso amor, e exultaremos de alegria” (Sl 89). Deus não nos quer miseráveis, vivendo à mercê de qualquer coisa que nos prejudique e nos aniquile como seres humanos. Pelo contrário, Deus nos quer despojados, desapegados. Pois só assim “desamarrados” de qualquer sistema ou posição social, poderemos alegremente servi-lo, amá-lo e honrá-lo na vida dos nossos irmãos mais pobres. Assim seremos mais Igreja, povo de Deus! Aprendamos com Jesus o que é ter uma vida voltada sempre para Deus! Amém!

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