Ao termos contato com esta história do evangelho, sempre somos tentados
a criticar este homem, pois ele não soube encontrar a coragem necessária para
assumir a sua vocação. Renunciar nunca foi algo fácil. E hoje, mais do que
nunca. São tantas as coisas que nos apegamos. Tantas são as realidades que nos
tornam passivos, sem as condições necessárias para avaliarmos como anda a nossa
vida. É assim que nos encontramos: em meio a tantas coisas ao nosso redor,
muitas vezes nos sufocando e nos dificultando a encontrar aquilo que realmente
qualifica a nossa vida.
O homem, personagem do evangelho, pode ser identificado com cada um de
nós. Sabemos quem é o nosso Deus, o nosso mestre. Manifestamos tal
reconhecimento, por exemplo, quando nos encontramos todos os domingos na igreja
para a santa missa, quando buscamos os sacramentos, quando assumimos algum tipo
de atividade pastoral, algum tipo de caridade ou ainda quando cotidianamente
nos lembramos de Deus, por meio de nossas orações e devoções pessoais.
Mas chega certo momento em nossas vidas que sentimos algo não mais
corresponder aos nossos anseios, mesmo diante de nossa fé. Queremos ir ao
encontro daquilo que realmente nos torna mais filhos e filhas de Deus. Foi
assim com aquele homem.
Mesmo assumindo para si cada mandamento, cada comportamento alicerçado
em sua fé, havia certo vazio. E, ao olhar para Jesus, algo o desinstalou, ao
ponto de procurá-lo, a fim de resolver o que realmente lhe angustiava.
Faltava-lhe algo que pudesse penetrar o seu íntimo e verdadeiramente fazer a diferença.
É o que ouvimos também na santa palavra: “A
Palavra de Deus é viva, eficaz (...). Penetra até dividir alma e espírito
(...). Ela julga os pensamentos e as intenções do coração” (Hb 4,12).
Quando ouvimos a palavra de Deus, quando nos deixamos seduzir por ela,
sentimos o desejo incessante de atender a sua vontade. Contudo, tal vontade
sempre será associada a certas renúncias em nossa vida. Somos postos à prova
diante dos desígnios de Deus.
Isto ocorre, por exemplo, quando nossos pais são provados a cada dia,
assumindo as alegrias, mas também as dores da missão de educar. Da mesma forma
no nosso trabalho e afazeres do dia-a-dia: temos a felicidade de contar com os
nossos serviços prestados cotidianamente, mas há situações que geram incômodos
e decepções.
Diante desta certeza, Deus nos provoca a mudarmos de vida. Jesus
pedagogicamente provocou aquele homem a assumir com todo o seu ser aquilo que
realmente lhe possibilitaria alcançar a vida que jamais acaba. Aquele homem,
por meio de sua liberdade, não foi capaz de tal renúncia. Era muito rico. Muito
apegado. Seria deveras difícil para ele.
Peçamos a Deus a graça de enxergamos tudo à nossa volta com os olhos de
Deus. Temos paz, somos bons, precisamos abraçar a pobreza que nos rodeia, a fim
de darmos os passos tão desejados pelo nosso Deus. Desta forma, seremos capazes
de prosseguir com a nossa caminhada de amor e de fé.
Por fim, caros amigos, façamos das palavras do
salmista, a prece desejosa do nosso coração: “Saciai-nos, ó Senhor, com vosso amor, e exultaremos de alegria” (Sl
89). Deus não nos quer miseráveis, vivendo à mercê de qualquer coisa que
nos prejudique e nos aniquile como seres humanos. Pelo contrário, Deus nos quer
despojados, desapegados. Pois só assim “desamarrados” de qualquer sistema ou
posição social, poderemos alegremente servi-lo, amá-lo e honrá-lo na vida dos
nossos irmãos mais pobres. Assim seremos mais Igreja, povo de Deus! Aprendamos
com Jesus o que é ter uma vida voltada sempre para Deus! Amém!
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