Estamos nos
momentos derradeiros da Páscoa. E nesta reta final, a Igreja nos convida a
celebrar a ascensão do Senhor. É Jesus voltando ao Pai. Voltando porque veio do
Pai. É esta a nossa fé. Garantia de que Deus sempre vem ao nosso encontro. E
porque veio, um dia haveria de voltar. Daí o sentido desta festa litúrgica.
A
certeza da ascensão marca o fim daquele período de encontros que o Jesus ressuscitado
teve com seus discípulos para lhes ser força e fé, explicando-lhes ainda mais a
missão. Por isso a solenidade da ascensão é assimilada como caminho para o
Pentecostes, uma vez que o Espírito Santo é a força de Deus a conduzir Jesus,
que também é Deus, ao convívio do mesmo Deus que também é Pai. Mistério bonito
e profundo de um Deus que é Uno e Trino.
Estamos certos
de que Jesus subiu. A palavra ascensão significa: subida, elevação. E Jesus subindo
quer que nós um dia subamos com Ele. E, de certo modo, já estamos lá com Ele. Pois, uma vez, ao assumir a nossa natureza humana, faz-nos
crer que a nossa humanidade, presente n’Ele, foi colocada no céu. Realmente a nossa
condição humana já foi acolhida na morada de Deus. Mas será se estamos aptos
a dar o verdadeiro sentido a esta subida que nos sugere o evento da ascensão?
Para um dia
podermos subir, temos que nos preparar bem por aqui. E Jesus, que continua aqui
conosco em nossas atitudes, na vida fraterna, no respeito e no amor para com o
nosso próximo e na certeza da sua palavra e da eucaristia, prossegue nos
preparando para tal subida. Sim! Jesus realmente continua conosco, em meio ao
seu mistério insondável e infinito de amor.
Desempenhemos
bem a tarefa que nos prepara para o céu de nossa fé. A este respeito, Jesus, no
evangelho deste domingo, despedindo-se do convívio dos seus apóstolos,
ressaltou o valor e a necessidade da missão que prepara a todos. Afinal, não é
porque Ele subiu que as coisas por aqui ficaram todas prontas! Prova disto, Ele
diz: “ide e fazei discípulos...” (Mt
28,19). Bonito o verbo ir. Jesus foi ao Pai e os discípulos foram para a
missão. Somos partícipes de uma fé dinâmica. Subir rima com ir!
Expressando
tal dinamicidade com estas suas palavras, no conjunto do evangelho, percebe-se
um conjunto de verbos que denotam fortemente o que devemos entender por missão
com a subida de Jesus. Os verbos IR, FAZER, BATIZAR E ENSINAR nos trazem uma
grande compreensão à luz de nossa fé. E uma vez compreendendo, acrescenta-nos
uma enorme responsabilidade. São verbos que nos provocam mais ação e uma ação
exigente.
A
primeira leitura desta liturgia (At 1,1-11) assume exatamente esta proposta, ao
nos convidar a não descuidarmos dos deveres concretos deste mundo. Na segunda
leitura (Ef 1,17-23) São Paulo completa este pensamento e exorta os cristãos de
ontem e os de hoje a não esquecerem que a vida não está limitada aos horizontes
deste mundo. Por isso, vê-se na Ascensão a glorificação de Cristo e o
anúncio do retorno de toda a humanidade para Deus. Nossa fé sempre nos exige
ação.
Sobre a ação que
Deus espera de nós, é bom refletir sobre como se dá esta ação através de seu
Espírito. Com o evento bonito da Ascensão, cremos que Ele desapareceu de nossa
vista humana, mas, através de seu Santo Espírito, inaugura um novo modo de
estar em nosso meio. Ascensão e Pentecostes fazem parte do mesmo mistério
pascal. É Jesus a nos consolar e ser a força que nosso limitado e humano
coração tanto aspiram. Pois Jesus também diz: “Eis que eu
estarei convosco todos os dias, até o fim do mundo!”.
Ele realmente
está conosco. Ele nos encoraja a vivermos impelidos pelo seu verdadeiro amor. A
nossa fé nos confirma sempre mais esta certeza. E certos desta presença, tudo
fazemos para sua honra e glória. A cada missa externamos este dom e esta
verdade quando o sacerdote, oferecendo os dons eucarísticos, diz: “Por Cristo, com Cristo, e em Cristo, a vós
Deus Pai todo-poderoso, na unidade do Espírito Santo, toda honra e toda glória,
agora e para sempre!”.
Apliquemos os
reais valores desta solene liturgia em nossa vida cotidiana, a fim de que a ressurreição
de Jesus continue a ser nossa vitória. E, uma vez vitoriosos, possamos ser
exaltados com Ele ao céu de nossas vidas para que a ação do Espírito de Deus
continue a ecoar em nós o som do seu sopro que nos é vital e eterno. Como
Igreja, prossigamos a missão salvífica de Jesus, indo ao seu encontro na
fraterna luz que aquece e ilumina a nossa comunidade que sempre se põe a
caminhar. Afinal, Jesus não se afastou
com ascensão. Ficou conosco de uma forma diferente. Está é a fé que temos e
sinceramente professamos!
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