Estamos diante do chamado
discurso de despedida. Mas não uma despedida a que estamos acostumados. Não é
um adeus! Deus não nos abandona. Entendamos este discurso como um “até logo!”.
São palavras que soam
como um testamento de amor. Jesus dirige-se aos discípulos com o intuito de
ajudá-los mais uma vez a poderem entender que Ele é Deus. Por isso, logo após o
momento da última ceia, depois de ter lavado os pés daqueles que agora servirão
a Igreja, Jesus fala afetuosamente de sua relação com o Pai.
Dialoga sobre sua morte,
mas não conseguem compreendê-lo. Por isso as palavras iniciais do evangelho
deste domingo: “Não se perturbe o
vosso coração”. (Jo 14,1).
A
fim de apresentar mais conforto e tranquilidade, Jesus quer lhes oferecer
abrigo. Fala-lhes da morada definitiva em Deus. Se por aqui vivemos uma
passagem, em Deus habita a nossa residência fixa.
É por esta razão que
Jesus também explicita: “Na casa de
meu Pai há muitas moradas. (...) Vou preparar um lugar para vós” (Jo
14,2). Esta despedida novamente deve ser compreendida como algo momentâneo.
Mas para reconhecermos
isto, faz-se necessário entendermos que Deus é a nossa casa definitiva. Deus
Pai é moradia plena, lugar de conforto, aconchego e abrigo. Esta é a casa que
nos espera.
As casas que aqui nos
abrigam são situações muitas vezes inconstantes. São casas de aluguel.
Hoje estamos vivendo nelas, amanhã poderemos não estar mais. Para almejarmos
esta casa verdadeira, reconheçamos que Jesus é a pedra que edifica esta casa em
nós. É o que nos propõe as leituras de hoje.
Com os ATOS DOS
APÓSTOLOS, percebemos que sempre será preciso por ordem na casa. A Igreja
estava nascendo. Precisava se organizar mais e melhor. Surgem novos ministérios
para atender a necessidade do evangelho. Não esqueçamos que a Igreja é formada
por seres humanos e não por anjos. Embora ajam dificuldades e problemas, o
trecho começa e termina enfatizando o crescimento dos cristãos.
São Pedro também deseja
por ordem na casa. É o que nos fala a 2ª leitura. Se entendermos que Deus nos
acolhe como pedras vivas em seu Filho que é a pedra angular, claramente a casa
será bem edificada. A Igreja obterá êxito em sua missão. O Apóstolo Pedro também
confirma esta certeza do céu em nós, ao dizer que somos templo, povo escolhido, sacerdotes de Deus, nação santa, povo
conquistado pelo seu amor (1Pd 2,9).
Verdadeiramente somos
pedras vivas no Cristo que é A pedra viva. Ele está vivo. É RESSURREIÇÃO
a pedra angular de nossa fé. É Páscoa! Os que creem no Cristo não há como não
se tornarem pedras vivas. É na familiaridade com Jesus que encontramos o Pai.
Jesus é a imagem perfeita do Pai. Jesus é a face humana de Deus que nos
oferece o céu. Por isso, neste domingo, Jesus também nos diz: “Quem me vê,
vê o Pai” (Jo 14,9). Mergulhemos na humanidade de Jesus, rumo certo para
alcançarmos a Deus.
Para sabermos chegar à
casa definitiva de nossas vidas, que é o coração de Deus, onde certamente encontraremos
repouso, será oportuno conhecermos bem o caminho que nos fará chegar até ela. E
onde fica este caminho?
Na realidade, a pergunta
mais coerente não é onde fica, mas QUEM É este caminho. Jesus também nos fala a
este respeito ao dizer ser Ele “o
caminho, a verdade e a vida” (Jo 14, 6).
Jesus se faz CAMINHO
porque nos faz experimentar a certeza de Deus em nós através do seu dom de ser
salvação. É também Ele a VERDADE, pois nos fez enxergar tudo o que é necessário
para a eficácia do projeto de Deus entre nós. E, como consequência de sua
perene ação, é a VIDA. Vida porque é comunhão. Sem afetos sinceros, amizades
maduras, relacionamentos verdadeiros, não se consegue entender o que é a vida
em Deus. Por isso, Ele conclui dizendo: “ninguém
vai ao Pai senão por mim” (Jo 14, 6).
Valerá a pena fazermos
tudo para sermos edificados nesta casa que é Deus em nós e entre nós. Olhemos
com solidariedade e rezemos por aqueles que vivem de forma incompreensível e,
portanto, não sabem como repousar nesta real MORADA de Deus. Seus corações
ainda estão perturbados, enquanto aqueles que reconhecem o amor de Deus
contentam-se com a inquietude de suas vidas. Foi Santo Agostinho que certa vez
disse: “inquieto está o nosso coração
enquanto não repousar em ti, ó Deus”. Em comunhão com a vida de Deus,
apresentemos o nosso inquieto coração humano.
Que Nossa Senhora, aquela que soube ser casa
ao abrigar o Filho de Deus em seu corpo, também seja para nós o coração que se
faz morada para sabermos chegar até o coração-morada de Deus, amém!
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