Gotas que edificam

Sinto a necessidade de partilhar uma experiência muito forte e encantadora que vivi no final da tarde de ontem. Todos sabem que uma das importantes e necessárias funções de um sacerdote é levar alento e conforto aos que vivem sofridos por conta das enfermidades do corpo. Ontem fui convidado para ministrar o sacramento da Confissão e da Unção dos Enfermos a Dona Inês. Uma senhora de 103 anos que vive acamada com vários problemas de saúde. Assemelha-se a uma vela que está prestes a apagar devido a finitude de seu pavio. Contou-me a família que esta senhora há alguns dias não pronuncia mais nenhuma palavra e vive apenas com um olhar vazio e solto no tempo. Até que ontem, pela manhã, ela pronunciou as seguintes palavras: “ME CHAMEM UM PADRE!”. Foi daí que se justificou a minha visita àquela senhora. Enquanto estávamos todos reunidos ao redor da cama de Dona Inês, rezando e nos solidarizando com esta senhora enferma, depois de concluídas as orações, algo chamou muito a minha atenção. Quando traçávamos o sinal da cruz para encerrar nossa oração, dona Inês levantou o braço e lentamente foi fazendo o sinal da cruz em sua fronte. Todos ficaram maravilhados, pois ela não tinha nenhuma reação há vários dias. Abaixei-me para beijar a sua mão. Ela, simplesmente puxou a minha mão em direção à sua boca e me afagou com um profundo beijo de gratidão e oração. Fiquei profundamente emocionado. E com os olhos marejados, despedi-me desta senhora com um beijo amoroso em sua fronte. Nos momentos de dor e de enfermidade dos filhos e filhas de Deus, encontro forças para prosseguir com o meu caminho. É assim que percebo Deus escrevendo e descrevendo o seu amor, nas linhas e nos caminhos de minha vida. Na fraqueza dos convalescentes, encontro fortaleza para ser alento aos que buscam o meu sacerdócio. “Pois quando estou fraco aí é que devo ser forte” (2Cor 12,9-10). Ontem rezei pela Dona Inês. Seu gesto de carinho me faz crer que ela está rezando também por mim. Louvado seja Deus!